Uma planta sagrada de cujo fruto se produz uma bebida alcoólica denominada sope, em Moçambique

Uma planta sagrada de cujo fruto se produz uma bebida alcoólica denominada sope, em Moçambique

No Distrito de Chibuto, na região sul de Moçambique, foi observada a produção de uma bebida alcoólica denominada “sope”, a partir da fermentação alcoólica da fruta massala, masala ou maciela (nomes em português). A senhora Masosote, que produz a bebida, inicialmente coleta e retira a polpa das frutas e as coloca para fermentar. Assim que encerra a fermentação, a mistura é levada para um recipiente cilíndrico, o xitamborane, onde é aquecida para separar o álcool. Esse recipiente tem cerca de 80 cm de altura, 40 cm de diâmetro e duas aberturas circulares: uma na parte superior com cerca de 20 cm e outra lateral de aproximadamente 4 cm. A mistura fermentada é introduzida pela abertura superior até cerca da metade do volume do recipiente: “não pode se encher”, disse ela, “porque durante a fervura, ao invés de sair o álcool, vai sair a espuma. Por isso que coloco estas folhas [de cajueiro] por cima”.

Figura 1: images de massalas

Para separar o álcool produzido na fermentação, a senhora elabora um condensador adaptando um cano com cerca de um metro e meio de comprimento na abertura lateral do xitamborane, fixando-o ao redor do encaixe com uma mistura de areia úmida e terra, a qual também é usada para vedar ao redor da tampa. Depois ela enrola o cano com um pano e o posiciona dentro da casca de uma árvore chamada tsevele, a qual tem comprimento menor que o do cano e cerca de 60 cm de largura, sendo mantida suspensa em relação ao chão usando suportes tais como pedras, panelas e bancos. As extremidades laterais do tsevele são fixadas por gravetos que agem como grampos, de modo a compor uma estrutura quase cilíndrica, pois será dentro da casca da árvore que os vapores alcoólicos serão resfriados ao passarem pelo cano de condensação.

Figura 2: A Senhora Masosote, a mistura de massalas após a fermentação e o xitamborane coberto internamente com folhas de cajueiro.

O xitomborane é aquecido por meio da combustão de lenha e gravetos que são colocados ao seu redor, mas é preciso aquecer lentamente, pois o calor não pode ser intenso e requer controle constante.  Após cerca de 10 minutos de aquecimento a bebida começa a gotejar. Uma garrafa de vidro é posicionada abaixo da extremidade livre do cano de condensação para coletá-la, onde se amarra um graveto: a zambiza, que tem a função de conduzir o destilado para dentro da garrafa coletora.

Ao comparar sua bebida com outras feitas industrialmente, a senhora Masosote disse que sua preferência é pela “caseira, porque não possui alto teor, é acessível (barato), e medida consoante ao valor que a pessoa possui; a diferença existe, porque essa fabricada em casa apenas se usa fruta, não se acrescenta outra coisa fora da fruta que é usada, enquanto a fabricada em indústrias contém adições que dão outros sabores”. O sope é comercializado pela senhora na comunidade onde vive, mas não é consumido por ela: “não tomo, só provo, para saber se é bom álcool ou não”.

Figura 3: A senhora Masosote e seu alambique.

A senhora Masosote aprendeu a produzir o sope de massalas com sua mãe, mas não sabemos se se trata de uma tradição familiar de longo tempo ou se resulta da imitação de um alambique observado em outro contexto, bem como se tem relação com os usos medicinais da planta.

A massaleira (Strychnos spinosa Lam.) é considerada uma planta sagrada em algumas comunidades africanas, principalmente devido aos usos na medicina tradicional ou etnomedicina, os quais foram documentados em vários locais, regiões e países da África e incluem principalmente o uso de folhas, raízes, casca e frutos para curar feridas, mordida de cobras, doenças venéreas (sífilis e gonorreia) e do fígado, dores de estômago, dores abdominais, problemas de sono, cólicas, esterilidade, abcessos, malária, diarreia, anemia, tumores,  diabete, hemorroidas, dor de dente e de ouvido, olhos inflamados, menorragia, hérnia, tripanossomíases, tuberculose, dermatite, infecção urinária, abscesso, constipação, febres, nanismo, imunidade e outras doenças.

Figura 4: Imagem da massaleira.

Perguntas para realizar uma experiência de controvérsia controlada:

1) Em sua opinião, o uso da massaleira na medicina tradicional africana é confiável?

2) Como as pessoas determinam que determinada planta cura?

3) Podemos confiar no que essas pessoas dizem e/ou fazem para curar doenças?

4) De modo geral, como as plantas são usadas popularmente para curar doenças?

5) No caso da massaleira, que partes da planta são usadas?

6) Como os princípios ativos dessas plantas agem no organismo humano?

7) Quais são os procedimentos necessários para realizar a comprovação científica da capacidade de determinada planta curar doenças?

8) Quanto tempo leva para chegar até tal comprovação?

9) Depende de quê ou de quem?

10) Entre o conhecimento científico e o conhecimento tradicional, qual é mais confiável e por que?

11) A comprovação científica tem alguma influência sobre a decisão de uma comunidade continuar usando determinada planta para curar doenças?

12) Os conhecimentos científico e tradicional podem dialogar?

13) A população corre riscos sem comprovação científica da capacidade de cura de uma planta?

Fase de planejamento:

Proposta de experimentação de laboratório: determinação da vitamina C em frutas

  • Como os livros didáticos e outras fontes* propõem identificar a presença de vitamina C nos alimentos?
  • Os procedimentos são os mesmos?
  • Qual procedimento usaremos?
  • Que materiais são necessários para identificar a presença de vitamina C em frutas?
  • Vamos testar frutas verdes ou maduras?
  • O teste permite saber qual fruta contém maior quantidade de vitamina C?

* como sugestão de procedimento, poderá ser indicada a seguinte referência:

SILVA, Sidnei Luis A.;  FERREIRA, Geraldo Alberto L;  SILVA, Roberto Ribeiro. À procura da vitamina C. Química Nova na Escola, n. 2, p. 31-21, 1995. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc02/exper1.pdf. Acesso: 09 set., 20224.

Fase de interpretação:

  • Que frutas demonstraram ter vitamina C em sua composição?
  • Por que o iodo mudou de cor na presença de vitamina C?
  • Qual fruta possui mais vitamina C?
  • Foi possível determinar a quantidade aproximada de vitamina C nas frutas? Como?
  • O poder de cura das massalas tem relação com a presença de vitamina C?
  • Quais são seus benefícios para a saúde?
  • Excesso de vitamina C faz mal?
  • Existe uma quantidade diária recomendada para o consumo? Qual?

Fase de comunicação:

Diálogos com a comunidade:

  • planejar e elaborar um roteiro para explicar à comunidade o que é a vitamina C, seus benefícios para a saúde, em que quantidade pode fazer mal e como os estudantes fizeram para identificar sua presença em frutas. Para fundamentar suas apresentações, é indicado o seguinte texto:

FIORUCCI, Antonio Rogério;  SOARES, Márlon Herbert Flora Barbosa;  CAVALHEIRO, Éder Tadeu Gomes. A importância da vitamina C na sociedade através dos tempos. Química Nova na Escola, n. 17, p. 3-7, 2003. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc17/a02.pdf. Acesso: 09 set., 20224.

  • planejar e elaborar um vídeo para postar em uma rede social mostrando como foi detectada a presença de vitamina C nas frutas.

REFERENCIA

Pinheiro, P. (2024). Uma planta sagrada de cujo fruto se produz uma bebida alcoólica denominada sope, em Moçambique. Secuencia didáctica. UFSJ.

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